O enólogo chileno Felipe Garcia e os segredos da uva Sauvignon Blanc
Uva Sauvignon Blanc por Felipe Garcia, enólogo chileno proprietário de Garcia & Schwaderer
Sempre pensei (e ainda penso) que a melhor maneira de aprender eficientemente sobre algum tema em particular é através das informações dos especialistas que realmente conhecem o tema. Quando surgiu a ideia de fazer uma matéria sobre a uva Sauvignon Blanc, imediatamente me veio à cabeça o nome de Felipe.
Para quem já degustou algum dos Vinhos de Autor (e especialmente Marina Sauvignon Blanc) que Felipe e sua esposa Constanza produzem no Chile, imagino que vai ser muito interessante poder ler esta matéria onde ele nos conta tudo sobre esta uva, sobre seu cultivo, seu comportamento no vinhedo e também na bodega.
Para aqueles que até agora não conheceram o trabalho de Felipe García e Contanza Schwaderer, e seu projeto Bravado Wines, menciono um fato muito relevante: eles têm o mérito de ter a maior pontuação da América do Sul para Robert Parker com um vinho da uva Carignan, e seus vinhos (Sofia Pinot Noir, Facundo Assemblage, Vigno Carignan e o próprio Marina Sauvingnon Blanc) sempre estão no topo das listas das guias e concursos de vinhos – e são também os precursores do movimento de enólogos independentes MOVI, agrupação que se diferencia do resto das vinícolas do Chile por produzirem vinhos dentro do conceito de vinhos de Autor, ou seja, em pequenas quantidades e com um selo muito pessoal.
Felipe tem uma vasta experiência quando se trata da uva Sauvignon Blanc, e já conquistou o 1º lugar da “Guia de Vinos de Chile” em várias ocasiões, há alguns anos atrás, quando trabalhava para a vinícola Casas del Bosque.
Com o seu Sauvignon Blanc Marina, poderíamos até dizer que Felipe mudou a história dos vinhos brancos chilenos, conseguindo pela primeira vez (e única) o troféu como o melhor vinho do concurso Wines Of Chile Awards, prêmio que sempre foi para vinhos tintos.
Então, deixo a primeira parte (de 2) da interessantíssima e completa matéria de Felipe Garcia sobre a esta uva, a fascinante Sauvingnon Blanc.
Pediram-me que escrevesse esta pequena coluna para poder explicar de forma simples todos os fatores que são relevantes na produção de um bom Sauvignon Blanc, e isso me fez relembrar o grande caminho que percorri nesta obsessão de querer fazer o Sauvignon Blanc dos meus sonhos, este vinho que realizasse tudo o que eu gosto desta variedade. Bom, e para isso tivemos que aprender muito, e é isso que irei contar a vocês nesta coluna.
O Sauvignon Blanc deve ser a variedade mais estudada de todos os tempos, e por isso uma das variedades mais técnicas na hora da elaboração de vinhos. Aqui, cada enólogo pode procurar um estilo particular e tentar realizá-lo em seu vinho. Cada uma das decisões que se toma na vinicultura e enologia têm influência direta na qualidade e estilo do vinho final. Aqui pretendo resumir os pontos-chave na obtenção deste meu Sauvignon Blanc dos sonhos.
O terroir
O primeiro passo é buscar o terroir adequado. Isso quer dizer, ir em busca de zonas frescas. No caso do Chile, todas as regiões costeiras, Casablanca, Leyda, Limarí, Paredones, etc., cumprem essa condição. Podem-se encontrar essas mesmas zonas frescas também nos Andes. Um exemplo muito bom disto é o caso de Colbún, zona dos Andes em Maule. No meu caso, o vale que mais gosto para o Sauvignon Blanc é Casablanca, pela sua proximidade com o mar, por suas manhãs com névoa e suas tardes com vento. Em minha opinião, estas características fazem de lá um lugar privilegiado no Chile e no mundo.
E por que é importante o cultivo em um clima fresco? Um bom exemplo para relacionar o clima e as variedades é perguntar o que aconteceria se um Carménère, uma variedade de maturação tardia, fosse colocado em uma zona costeira e o Sauvignon Blanc em uma zona quente?
Fácil. O Sauvignon Blanc ficaria sem acidez e sem aromas, isto devido à maturação que aconteceria em um ciclo muito curto, e eliminaria grande parte de sua acidez natural e de suas qualidades aromáticas. No caso do Carménère, estando em um clima ameno ficaria com um sabor verde de taninos imaturos, um vinho que não dá para se tomar! Isso porque não teria a temperatura suficiente, em graus e em tempo, para se conseguir uma fruta madura que permitisse uma boa expressão da variedade.
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