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Diga-me: “quanta madeira tu gostas, que direi quem tu és”.

A madeira nos vinhos tem relação direita com a maturidade do consumidor.

É muito normal que todos nós comecemos preferindo, nos primeiros anos de aprendizado, vinhos bem marcados pela madeira, sobre maduros e bastantes exuberantes, para logo ir mudando nossos gostos e preferências de maneira gradativa, até encontrar (descobrir) nosso verdadeiro gosto.

Quase sempre temos uma clara consciência dos aromas (e sabores) que são entregues pela madeira. Aos que não conseguem, começaremos a identificar e preferir os primeiros desta categoria, que são denominados de “aromas primários”, (que provem da própria uva).

Dito de outra forma, na medida em que vamos aprofundando nossos conhecimentos vamos deixando de lado vinhos muito “mascarados pela madeira” ou “excessivamente maquiados” e vamos preferindo vinhos mais elegantes, mais equilibrados, com menos madeira ou que, em termos gerais, provoca que estes tenham um maior nível de qualidade.

A madeira excessiva é um inimigo da acidez, e esta é fundamental para dar equilíbrio ao vinho uma vez que ele esta evoluído. Pelo tanto, vinhos de maior equilíbrio, podem ter uma vida mais longa, enquanto os vinhos pesados e com muita madeira terão uma péssima evolução.

Com os mercados importadores de vinho acontece algo parecido. Por exemplo, os marcados mais desarrolhados e evoluídos, como os países europeus, principalmente Inglaterra, tem um gosto muito diferente aos mercados mais novos, como são os mercados asiáticos e africanos, onde estão começando a beber vinhos.

Vinho com madeira

Vinho com madeira

Pelo tanto uma bodega na hora de colocar um vinho dentro de uma barrica sempre tem que ter claro para que tipo de consumidor esta elaborando os seus vinhos.

No caso do primeiro exemplo (Inglês) estes consumidores possuem muita experiência, pois o vinho faz parte da cultura. Este tipo de consumidores exigem vinhos de qualidade, e a concorrência é enorme, já que no mercado estão disponíveis vinhos do mundo todo. Há mais de uma década os ingleses estão preferindo vinhos sem (ou quase nada) de madeira, só a suficiente. Então não vai adiantar importar um vinho excessivamente madeirado, que o mercado vai com certeza rejeitar.

Já para mercados mais novos, que começam a mostrar interesse por vinhos de qualidade, normalmente se procura elaborar vinhos bem maduros, com bastante madeira, lembrando sempre que a madeira também entrega uma grande quantidade de aromas doces, principalmente a baunilha e alguns da família dos “chocolates”, então, é muito mais fácil seduzir um consumidor principiante com um vinho com aromas de especiarias, baunilha e chocolate do que com um vinho de aromas mas distantes.

Colocando o consumidor brasileiro neste exemplo anterior, ele está em uma espécie de transição entre os tipos de consumidores mencionados, ou seja, tem uma grande quantidade de consumidores que estão começando a beber vinhos, e que ainda preferem que estes tenham um pouquinho de açúcar (os conhecidos vinhos suaves), com notas aromáticas e gustativas aportadas pela madeira bem evidentes.

No mercado brasileiro também há uma grande quantidade de consumidores que preferem os vinhos secos, sem muita madeira, e a cada dia este publico está se multiplicando. Aí que vem o interesse de muitos países produtores, a fim de ganhar presença neste mercado, além das ótimas expectativas de aumento do consumo que esta prevista para os próximos anos.

Tente encontrar o seu perfil e encontre o vinho certo para você! Seja com madeira ou sem, o vinho é sem dúvida uma bebida fascinante. Não é mesmo?

 

Alugue umas videiras e faça o seu vinho

Um viticultor/produtor australiano decidiu alugar parte da sua vinha a enófilos locais, na região de Vitória, um pouco a norte de Melbourne.

O homem chama-se Brian Spencer e a empresa ficou com o nome de Shiraz Republic.

O método é fácil: cada enófilo pode alugar o número de videiras que quiser, tratar delas, fazer a vindima e vinificar as uvas na adega da quinta. Cada um faz o que entende, desde que não danifique as videiras e, para os menos avisados, a empresa dá conselhos. O pagamento é feito ao vinho resultante: cerca de €270 para 25 litros e até €1.500 para uma barrica.

Brian disse aos nossos colegas da publicação Australiana “The weekly times” que, em média, os seus clientes visitam a vinha cinco vezes por campanha. A ideia foi colocada em prática em 2011 e a Shiraz Republic já tem cerca de 140 clientes, que exploram 40 toneladas de uva por ano. Cada um dos enófilos decide o que quer fazer: o processo leva cerca de 18 meses, desde a escolha da vinha e seu tratamento, passando pela vindima e vinificação. “A maioria dos clientes fica com cerca de 10 videiras, que dão 25 litros de vinho; podam as videiras, colhem a uva e envolvem-se na vinificação”, diz o proprietário desta quinta.

Alugue umas videiras e faça o seu vinho

Alugue umas videiras e faça o seu vinho

Outro cliente, por exemplo, alugou dois hectares de videiras e começou o seu próprio negócio de vinho, com marca e tudo! Mesmo o fertilizante – biodinâmico, diga-se de passagem – é trazido pelo cliente.

A época das vindimas, como se calcula, é um “caos organizado”, nas palavras de Brian. Mas o entusiasmo de toda a gente é “contagiante”. Na vinificação o pessoal faz a pisa a pé das uvas de Syrah. Alguns escolhem barrica para estágio, outros apenas inox, outros não querem sulfuroso. Ou seja, apesar das uvas serem semelhantes, cada vinho é único. Outra parte engraçada é que depois esta autêntica comunidade faz mais tarde provas comparativas para avaliarem as qualidades enológicas de cada vinho. E trocam garrafas entre eles, cada uma da sua marca.

No final, Brian diz que “não se fica rico a fazer este negócio. Faço-o porque gosto de gozar a vida”. Não sabemos de negócio semelhante em Portugal, pelo menos neste formato. Mas não deverá tardar muito até aparecer um…

 

Fonte: Revista de Vinhos de Portugal