Vinha velhas produzem melhores vinhos?
As vinhas velhas são uma contradição. Por um lado, cada vez se arrancam mais, devido à sua decrepitude e diminuta produção. Por outro lado, cada vez são mais apreciados por alguns produtores, que nelas baseiam os seus melhores vinhos. E a designação “vinha velha” no rótulo é quase uma garantia de qualidade para muitos consumidores…
Que segredo encerram estas cepas capazes de nos dar uvas sábias que fazem arte na forma de vinhos? Qual é, ou quais são, as pequenas diferenças que fazem toda a diferença e que levam a que muitas vezes um vinho de vinhas velhas valha 10 vezes mais do que um outro vinho das mesmas castas vindo de uma vinha jovem? Qual é a sabedoria destas cepas especiais?
São perguntas sem resposta concreta. O tema, que encerra certa dose de polémica, é muito antigo, mas só recentemente começou a ser explorado do ponto de vista comercial. A importância mediática e o estatuto que têm atingido algumas destas vinhas têm levantado inúmeras questões que sugerem a necessidade de futura regulamentação do termo e respectiva exploração. Mas por enquanto tudo continua sem regras e uma vinha velha pode ter muitas faces.
O segredo das Vinhas Velhas
Afinal, quantos anos tem uma vinha velha?
Primeiro que tudo convém esclarecer o conceito de vinha velha. A pergunta é tão velha quanto a história da própria videira. Quando é que podemos considerar que uma vinha está velha?
O conceito de idade está colado aos regulamentos comunitários de produção de uva que são bem explícitos: uma vinha só pode produzir uva para vinho depois de 3 (às vezes mais) anos de idade. Portanto o conceito de idade, neste caso idoneidade mínima de uma videira para a elaboração de vinho, é um fator que é tomado em conta desde a nascença da planta. Mesmo nos primeiros 6 a 8 anos de idade a maioria dos viticultores do Velho Mundo não considera a cepa apta à produção dos melhores vinhos sendo normalmente conduzidas para segundas ou terceiras marcas.
Depois do oitavo ano de produção a vinha tem um sistema radicular e uma estrutura aérea vegetativa estabilizadas e inicia a sua idade produtiva propriamente dita.
Entre os 20 e os 25 anos de idade é consensualmente aceite que a videira começa a produzir menos, iniciando a produção de uva de sabor mais concentrado. A partir daqui aceita-se que a videira começa a envelhecer. Mas podemos considerar que está velha?
Uma videira entre os 20 e os 50 anos de idade atravessa a idade adulta rumo à velhice, mas os índices de produção e o tempo de vida ainda não permitem chamar-lhe “vinha velha”. A partir dos 50 anos de idade o termo “vinha velha” pode-se aplicar sem receios de ferir ouvidos mais cépticos.
À medida que a velhice vai avançando, a videira produz cada vez menos uvas mas normalmente uvas muito equilibradas e intensas no aroma e sabor. A película da uva da vinha mais velha é normalmente mais espessa, tem mais taninos e a polpa tem mais sabor. Contudo estas vinhas velhas têm uma exploração dispendiosa e para muitas agro-indústrias, uma vinha velha pouco produtiva, poderá ser inviável do ponto de vista económico.
Continua…