Os barris usados e seu efeito no vinho
É bom lembrar que faz toda a diferença o fato do barril ser novo ou usado
Os novos passam uma gama de aromas e sabores – já vistos – ao vinho, enquanto os que têm alguns anos de uso são quase inertes, permitindo apenas a micro-oxigenação. As empresas que buscam o toque de carvalho em seus vinhos usam apenas barris novos ou de primeiro uso, no máximo, segundo ou terceiro, raramente quarto uso. Depois de utilizados, normalmente, os barris são vendidos para outros fins que não a vinicultura. Isso encarece muito o processo, pois um barril francês de bom tanoeiro pode custar U$D 1 mil, e um barril americano dificilmente sai por menos de US$ 500.
Um ponto fundamental para o uso de barris usados pela segunda ou demais vezes é sua higiene. Eles devem ser perfeitamente limpos, mas não podem ser esterilizados. Os Brettanomyces – tipo de levedura, apelidado de “Bret”, que pode contaminar barris e transmitir aromas defeituosos aos vinhos, lembrando mofo e dando toques animais desagradáveis à bebida – são perigosos e precisam ser monitorados constantemente.
Outro aspecto da madeira usada é detectado na parede de um tonel antigo, onde podem acumular-se cristais de tartarato. Esta substância aparece nos vinhos engarrafados sobre forma de pequenos cristais brilhantes insípidos e inodoros.
Quando ainda estão nos barris, estes cristais podem impermeabilizar a madeira, evitando a evaporação do vinho; impedir a impregnação de sabor de madeira no vinho, o que provavelmente seja a intenção do enólogo; e ajudar a precipitar os cristais de tartarato do vinho novo. É possível fazer uma raspagem nos barris usados para retirar eventuais cristais, limpá-los, desmontá-los, efetuar nova tosta e montar de novo.
No entanto, este processo é trabalhoso e o efeito jamais será o de um barril novo.
Os chips
Como já mencionamos, barris de carvalho são custosos e têm impacto direto do preço final de uma garrafa. A conta é simples: um barril de US$ 600 novo, que comporta 225 litros ou 300 garrafas, encarecerá o vinho, na origem, em US$ 2. Se este valor for multiplicado cerca de três vezes por impostos e taxas, só o barril significará US$ 6, ou cerca de R$ 18, no preço de prateleira de uma garrafa. É fácil deduzir, então, que vinhos de menos de R$ 30 ou R$ 40 dificilmente passarão sequer perto de barris novos.
A alternativa barata para dar aquele gostinho de carvalho ao vinho é o uso dos chamados chips. Retalhos de madeira, aduelas, serragem, todas as sobras de carvalho podem ser aproveitadas e colocadas em contato com o vinho em vários momentos. Existe a possibilidade de usar os chips desde a fermentação até o vinho pronto. É usado colocar pedaços da madeira ou mesmo saquinhos de chá gigantes, contendo serragens de carvalho em tanques de inox.
Dependendo do país e da região, este artifício é ilegal e, geralmente, não é admitido pelos produtores. Na Austrália, a prática é permitida e muito comum nos vinhos mais baratos, enquanto em Bordeaux e na Borgonha é proibido, por exemplo.
O que nos interessa saber é quais os efeitos dos chips. Naturalmente simulam o barril de carvalho, passando aromas de madeira ao vinho, mas sem mesma qualidade e sem a microoxigenação, que dará complexidade e longevidade. Geralmente isso funciona bem para vinhos muito simples, de consumo imediato, o que realmente pode ganhar ao receber este aporte de aroma e sabor.
Chips, no entanto, jamais se prestarão à produção de vinhos de maior qualidade, estrutura, complexidade e, sobretudo, de longa guarda, pois os aromas de carvalho dados por este método tendem a se perder depois de alguns meses do vinho engarrafado.
O mesmo vinho pode ser elaborado em barris de tipos diferentes?
Em relação as barricas de carvalho é bom lembrar que cada vinho pode ser elaborado de uma maneira diferente: sem nenhum contato com madeira, amadurecido em barris 100% novos, ou mesmo amadurecidos em um mix de barris novos e usados, de diferentes tipos de carvalho, de diversas idades e tamanhos.